Trump foi eleito por uma multidão de trumps, diz Janio de Freitas em seu artigo
de hoje, na Folha. Segundo ele, Trump não é um só um feito inesperado, mas parte
da índole majoritária nos Estados Unidos. Lembra que o vencedor carrega
bandeiras bem ousadas como preconceitos racistas, contra negros e
latino-americanos, árabes, asiáticos, índios americanos e, mesmo disfarçando,
contra judeus.
Trump falou pouco de relações internacionais, somente que não seria
admissível países como Coreia do Norte e Irã serem países nucleares e que aprova
“ataques e invasões a países que nem sabe onde ficam”.
Janio aborda o fato de que que quem fez menção ao estado da índole dominante
americana foi Hillary Clinton, e não Trump. E que ela é avalista de ações de
guerra, não tendo reagido à falta de atitudes contra a violência interna,
principalmente contra os negros.
E mais. Janio fala do casuísmo demonstrado pelo ministro Gilberto Kassab que
quer uma medida provisória para mudar lei que impede governo de intervir na
telefônica Oi. Uma lei que foi aprovada e mantida sem restrições agora é alvo de
uma tentativa de se instalar uma ilegalidade. E frisa que isso é um casuísmo de
ditaduras.
Por fim, fala da invasão e depredação da Assembleia Legislativa do Estado do
Rio, por policiais e bombeiros, contra o corte pretendido de 30% nos salários do
funcionalismo. Mais um capítulo à crise das finanças estaduais.
Leia o artigo a seguir.
Da Folha
Por Janio de
Freitas
Donald Trump saiu de junto dos seus cofres fortes para um importante favor ao
mundo. Ainda que fosse derrotado, já o teria feito em grande parte, ao menos
para quem quer ver o mundo como de fato é.
Vitorioso, Trump não é apenas mais um inesperado eleito para presidir a
chamada democracia americana: em um século e pouco, é o mais representativo da
índole majoritária nos Estados Unidos, da qual veio a comunhão bem sucedida
entre o candidato e a maioria eleitoral.
Competitivo, ousado, bilionário, Trump reflete com perfeição a sociedade,
como diz sua biógrafa Gwenda Blair, em que os homens são divididos e tratados
como vencedores e vencidos.
Portador declarado de preconceitos racistas, exprime com propostas objetivas
a rejeição, pela dominante parcela branca, que a lei não consegue evitar contra
negros, latino-americanos, árabes, asiáticos, índios americanos e, por mais que
um lado e outro o disfarcem, mesmo contra os judeus.
O simplismo do pouco que Trump falou sobre as relações internacionais, ou os
focos de tensão, não contém ressalvas ao belicismo do seu país.
Breves citações à Coreia do Norte e ao Irã foram só para dizer que os Estados
Unidos não podem admiti-los como países nucleares, o que é também o esperável da
maioria que aprova ataques e invasões a países que nem sabe onde ficam. (Os
americanos aprendem geografia com as guerras, dizem eles).
E tanto mais ou pior, porque se poderia mencionar as mortandades feitas pelo
militarismo dos Estados Unidos mundo afora, com pleno assentimento da maioria
nacional – e sem crítica de Trump senão para prometer o bem acolhido
isolacionismo.
Quem fez menção ao estado da índole dominante americana foi Hillary Clinton.
No seu último discurso, véspera da eleição: "Precisamos curar este país, temos
de reunir as pessoas, de ouvir e respeitar um ao outro". Propõe-se cura para
quem se sabe estar doente.
Se bem que Hillary, quando integrante do governo Obama, foi avalista de ações
de guerra. E não reagiu à falta de atitudes efetivas contra a violência interna,
em particular a dirigida aos negros.
Já foi possível aprender ou saber mais, graças a Trump, sobre as ideias da
maioria politicamente ativa dos americanos que a identificam com o candidato do
egocentrismo nacional. Trump foi eleito por uma multidão de trumps. Mas de como
será ele, quando submetido às circunstâncias da Presidência, só se sabe que não
será o presidente prometido.
CASUÍSMO
O ministro Gilberto Kassab quer lançar uma medida provisória para mudar a lei
que o impede o governo de intervir na telefônica Oi. Do ponto de vista de uma
lei que não sofrera restrições, a providência é para instalar uma ilegalidade.
Um casuísmo de ditaduras.
Em recuperação judicial, a Oi deve mais de R$ 65 bilhões. Continua operando
como as demais. Na relação das grandes empresas, aparece com perto de 140 mil
empregos diretos e indiretos.
A inexplicada ideia de intervenção, em que a principal credora se tornaria
interventora, com evidente sobreposição de interesses, acabará por fazer como em
tantos casos semelhantes: o governo bancando, com dinheiro público, uma dívida
particular de dezenas de bilhões.
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A invasão e depredação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio, por
policiais e bombeiros em reação ao pretendido corte de 30% dos salários do
funcionalismo superiores a R$ 5 mil, acrescenta um novo tipo de crise à das
finanças estaduais. Mas foi só o começo.